A (primeira) Pietà do Michelangelo
Hoje conhecemos quatro “Pietás” criadas pelo grande gênio que foi Michelangelo Buonarroti e aqui vamos falar da primeira realizada pelo grande gênio.
post
dedicado à Deise del Roveri e ao Roberto Pino
Difícil falar de uma das
obras mais significativas de todos os tempos como a primeira
Pietà
do Michelangelo... mas vamos começar do começo
para
nos aproximar
mos aos poucos desta
obraprima.
Foto da pedreira de Carrara, onde Michelangelo passava meses procurando seus blocos para esculpir; obrigada pela foto, Claudia Groh
CV Michelangelo Buonarroti
O garoto nasceu em 1475, tinha 22 anos e caráter forte, enorme sensilibilidade e
grandiosa habilidade que prometiam muito. Ele tinha sido aluno do Ghirlandaio e do Bertoldo, tinha
frequentado a corte de Lourenço de Medici e
conhecido outros artistas famosos, filósofos, e um certo frade
domenicano que ainda daria muito o que falar, o Savonarola, que
pregava apaixonadamente por uma reforma da igreja.
Estas experiências foram
fundamentais para o jovem Michelangelo, que acabava de receber as
sementes da sua pópria concepção de mundo, impregnada de reflexões
que marcariam profundamente a história do mundo ocidental.
Foto RestaurArs
No ano de 1492
Michelangelo presenciava a descoberta da América, a morte do
Papa Inocêncio VIII (a ascensão do
Papa Rodrigo Borgia),
e a morte de
Lourenço de Médici! Dizem que Michelangelo
ficou tão abalado com a morte de seu amigo e protetor, que não
conseguiu fazer nada por um bom tempo.
Alguns anos depois,
Michelangelo fez uma escultura de um pequeno
Cupido (hoje
desaparecida), que foi vendida como uma falsa antiguidade através de
um comerciante de
Roma ao cardeal
Riari.
Riari
descobriu que a sua aquisição era falsa e quis seu dinheiro de
volta. Apesar desta esdrúxula situação nasceu uma amizade entre os
dois e em 1496
Michelangelo foi à
Roma encontrá-lo
e assim que chegou recebeu do dito cardeal a sua primeira comissão
para uma escultura em tamanho natural de um “Bacco”. Neste
período
Michelangelo estava hospedado na casa de um banqueiro
chamado Galli (entre
Piazza della Cancelleria e
Piazza Navona), e ali
mesmo, no pátio desta casa, ele trabalhou nessa escultura. O Galli
parecia mais impressionado pelas habilidades do grande escultor do
que o
cardeal Riari, tanto que em 1498 foi o Galli que assinou o
contrato para a comissão que transformaria a vida do
Michelangelo:
a
Pietà para Jean de Bilhères.
Foto RestaurArs
A Pietà: tema que não está descrito no Novo Testamento
O tema “Pietà”
não está na Bíblia. Era um tema do norte da Europa, mais
precisamente da Alemanha, mais precisamente ainda conhecido como
“Vesperbild”: tratava-se de imagens devocionais de tamanhos
diferentes com o Jesus morto nos braços de Maria. Este foi o tema
escolhido pelo francês Bilhères para a sua própria
sepultura. A escultura deveria adornar uma pequena capela na igreja
de Santa Petronila, colada na Basílica de São Pedro.
O que podemos dizer do
resultado final desta obraprima de Michelangelo?
Foto RestaurArs
Aspectos importantes para a compreensão da Pietà do Michelângelo
A primeira coisa que vemos
e que é clara quando observada à distância é a forma piramidal.
Padre, Filho e Espírito Santo formam três pontos, que por sua vez
ligados formam um triângulo que indica que a cena alí representada
está dentro de um conceito divino que transcende a dor (
Prof. G.C.
Argan). Jesus parece adormentado no colo de Maria, base do conceito
cristão de morte, pois através do sono acorda-se para a vida eterna
em Cristo.
A Virgem foi representada
mais jovem do que o Jesus, já na casa dos 30, quase como se fosse
uma previsão do futuro; a sua mão esquerda confirma e aceita a
Paixão, a realização do fato consumado. Temos aí dois períodos
de tempo nesta figura (
Prof. G.C. Argan): a mão direita de Maria
sustenta seu corpo mas não o toca diretamente; existe um tecido
entre a mão da Virgem e o corpo de Jesus.
Foto RestaurArs
A Virgem está vestida em
um modo muito mais próximo à uma Artemis do que à uma das tantas
representação dos séculos XIV e XV (
Mestre da Pietà Fogg, Beato
Angelico, Masaccio) que provavelmente foram vistas por
Michelangelo.
A faixa que atravessa em diagonal o seu tórax tem a assinatura do
artista, o que nos faz pensar que alguma motivação muito forte o
levou a fazê-lo, pois ele não tinha o hábito de assinar as suas
obras.
Foto do estúdio na pedreira de Carrara; obrigada pela foto, Claudia Groh
A perfeição da
musculatura do corpo de Jesus nos confirma os estudos de anatomia
feitos por
Michelangelo, que rendem perfeitamente não só as
proporções do corpo humano, mas a falta de tensão de seus membros
e o peso do seu corpo. Comovente, na minha opinião, seu pé esquerdo
suspeso no ar e sua mão direita, com o índice que desaparece nas
dobras do manto da Virgem.
Foto do estúdio na pedreira de Carrara; obrigada pela foto, Claudia Groh
Na testa de Maria
encontra-se uma linha que foi realizada com o intuito de criar um véu
imaginário através de um efeito da luz da capela da igreja de Santa
Petronilla.
Foto da pedreira de Carrara, onde Michelangelo passava meses procurando seus blocos para esculpir; obrigada pela foto, Claudia Groh
É um mistério o
funcionamento da mente e das ações do gênio. Apesar de tentarmos
circundar a dinâmica da criação desta obra tão pungente, não
creio que seja possível aproximá-la o quanto gostaríamos.
Resta-nos a difícil tarefa de contemplá-la na sua perfeição.
Uma das coisas mais gostosas da viagem à Itália é perceber continuidades
e diferenças na arte e na arquitetura deste maravilhoso país. A viagem
tem muitas vezes o sabor lúdico de um enorme e maravilhoso
quebra-cabeças. Este post faz parte de uma
bloggagem coletiva que está saindo hoje, junto com Magê e Babi, sobre as três principais, para mostrar pra você como nós nos divertimos
neste país. A “
Pietà Rondanini: Michelangelo em Milão" foi escrito pela Magê e a “
Pietà Bandini – Consolação e Tormento de Michelangelo, post escrito pela Babi.
Se você também é apaixonado por Michelângelo, leia o post sobre a
Capela Sistina!
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Bibliografia:
Argan, G. C., Storia
dell'Arte Italiana, Milano,
Ed. Sansoni, 1988
Wundram, M.,
Renaissance,
Reclam, Ditzingen, 2004
Kupper, D., Michelangelo,
Leipzig, Rowohlt, 2004
von Brauchitsch, B.,
Michelangelo, Berlin, Suhrkamp, 2009
Enciclopédia Treccani On
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